Engraçado tentar se achar na confusão,e se perder com a certeza.

domingo, 23 de novembro de 2014

Joguei amores, suicidas, conservadores, libertários, saudosos, credores, profetas, putas e professores pela janela
Sai e trouxe banana da terra
Fui mexer o caldeirão e dançar a lua
Que ascende nua
Lá fora da janela mínima
Do Alto das Pombas, Salvador, Bahia
Só e solto salto alto
Um segundo
Brilha uma estrela
Acho que eras daqui
Muito longe, mas eu vi.
Onde estão as cartas, as visitas, os grandes amores
Onde, o amor que os motiva
Tudo que passa por mim
E em mim cessa
Tudo que é seu corpo
Posse e desapego
Te significo todo
Entre a ideia e a prova
Morro de saudade
Desrespeito a natureza
Quero a mimese do voo dos pássaros
Não sei voar, mas sei possuir
Pinto seu retrato
Chove
O tempo atravessa o destino dos carros
Risca todo e cada passo dado
Reparte junta
Escolhe o grão
A vida me confia o grande retiro
Da minha vontade volátil
De ter contigo
De ter com todos
De ter detentores da minha presença
Todos os lugares
Anos
Peles
Rés e aceleradores
Tudo no agora
Inadiável do meu desejo
Quero devorar oceanos
E toda a terra
Na esperança de te haver no misto
Não sei o que mais pode reparar
A posse de um peito que não fere
Ou a música do sangue seu
Que pulsa vivo distante demais
Vão-se os anéis, vão-se os dedos
Vão-se os anéis e outros anéis chegam, inéditos
Quanto menos dedos, mais dispensáveis os anéis.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Piscina
Como segurar meus pertences
Profundo no oceano
Manter óculos, anotações, carteira
Não se afogar
Sua mão na minha
Em superfície
Eramos o mesmo barco
Você, o último pertence
Eu carrego seu coração
O oceano esconde
Perdendo pertences
Temendo sentenças
Seguro os bolsos debaixo do chuveiro
Se pudéssemos ler a água em nossas veias
Navegaríamos
Quero manter pertences
Seu coração comigo, carteira no bolso
Os óculos repousados sobre a face
Velhos amigos
O amor regente do corpo
A suavidade reagente do amor
Seguro o ar na terceira raia
É uma travessia
Preciso manter, preciso abandonar
Preciso buscar a natureza do silêncio
Preciso precioso seguro no peito
E dentro pertences afundam
O oceano é meu.
Tem palavra que é sempre presente. Lida e relida com olhos jamais os mesmos.
Para esse ano de 2013 desejo paz, saúde e trabalho. Que haja crença suficiente no tempo, para que possa haver sacrifício e fé em nome do que se quer, e para que possamos cultivar nossos instantes de silêncio e contemplação. Que haja humildade e amor, para que possamos compreender os outros e a nós mesmos, em sua totalidade de bem e mal, erro e acerto, loucura e sanidade. Que haja mais crítica e auto-crítica. Que o passado não seja jamais um empecilho, no que diz respeito a viver o novo, reeviver o velho e sonhar. Que o presente seja a forma mais presente de futuro. Amém
Sólido
Nos homens sinto saudade. Onde está no teu corpo e no riso, o real compartilhar? Sinto falta da falta de jogo, de uma sinceridade erótica que é quase brincadeira. Riso que se divide ou que se compartilha? Pobre de quem acha que é jogo de vencer. No leito a graça é de se foder junto. Rir junto. Perder e perder-se. Saber de você, saber de mim, abdicar de todos os saberes. Sobre tempo e não quantidade, e não quantidade de corpo nem de tempo. Sobre tempo de corpos e não de corpo. Tempo de palavras pautadas por silêncio. O tempo da entrega. O respeito contigo em bater o pau no rosto de alguém, gozar em seus cabelos. O respeito que existe ou inexiste, apenas pelo brilho dos olhos, fala dos corpos, sangue das bochechas, breu das entrelinhas. Acredito no desumano, no animalesco. Tudo que é do homem é sujo. Acredito no amor mamífero onde o corpo é nutrição, teta. Não um jogo de roubar fluídos. Uma brincadeira de nutrir multuamente. Algo como voltar a própria natureza. Um lugar perto de nascer, crescer e morrer. Encarnação na carne de outro. Posições desprovidas de posicionamentos. Passividade no que diz respeito a dois corpos que se entendem vulneráveis. Atividade no que se entende por inquietação na vontade à vontade dos corpos. Passividade e atividade compreendida à explorar dois corpos entendidos como um só território. O beijo é o abismo. Ele deve mediar as chamas. No abismo do beijo, precipite-se. Acredito nos pratos limpos, nos laços sinceros e no cultivo de resíduos. Penso as amizades como a única forma possível de amores inesgotáveis. Gosto da idéia de ligar no dia seguinte para dizer o que não foi. Dizer o que não foi a tempo, valora tudo o que de fato permaneçe. Tenho apreço pela admiração. Admiração é um exercício erótico. Dar-se a admirar. Interesse por observar, investigar, descobrir, comtemplar, compartilhar. O compartilhar porque não há melhor admiração senão a comunicada. Admiração é a permanência do gozo. Acredito no cultivo desses resíduos. Penso o corpo como memória sensacional. Floreio uma renda estruturada em pequenos laços. Gosto da idéia de olhar para os próximos futuros estranhos, com a sensação corporal de pequeno laço. Podendo a facilidade da troca de riso. Ton de boa lembrança no "Olá" resquício elétrico no aperto de mão. Satisfação.
Não há lugar para o sensível. O sensível não sabe como se proteger. O mundo contemporâneo é lugar de defesa, tempos vaporosos, auto-preservação. Imagem. Não a chançe para sua sobrevivência. O lugar do sensível é desamparado, porque o sensível é vulnerável, o sensível só deseja e existe no vulnerável. O sensível não conhece a medida das coisas, quando todas tem potencial de universo. Não há limites para o espaço sensível, posto que não existem fronteiras entre ele e todas as coisas. Vulnerável. Como poderia eu me abster de você, de uma entrega, de um cuidado. Como poderia eu não acrescentar dor e laço a todas as relações. Como poderia eu não querer pegar seu telefone, te ligar, te conhecer pra além do corpo? Me misturar um pouquinho, me machucar. Viver o ciclo arriscado do amor que nasce, cresce, e morre como tudo perfeito na natureza. Como poderia eu me proteger de algo tão magnífico? Como poderia eu amar em verdade, senão desta forma? Haveria como optar apenas por meias-coisas de amor? Não seria amor. Eu preciso do contato familiar em nós, do amor mamífero. Na raíz instintiva da entrega. Eu preciso do voo que também é abismo. Eu preciso saber cair para ter asas. Dispa-se agora como eu me despi, dê-se a coragem do amor. Sensível, humano, natural, vulnerável, como estar nú 24 horas por dia.
Ah coração! segredado, oxímoro.
Platonismo, êxodo.
Condição hermética de amor, de sua negação.
Em abundância, sem objeto.
Esquizofrênico, anacrônico, autolítico.
Amor imigo. Amor utopia. Amor fati.
Òsotokànsosó
Rastro de penas, te acho
Rastro de penas, te acho
Quente como o verde mato
Quente como o verde mato
Minha solidão é sua
Sua solidão é minha
Contra sua flecha nada
Certa contra o alvo armada
Sou o caçador e a presa
Sei que sou a própria caça
Sei que sou a flecha e o arco
Sei que sou a mira e o alvo
Não há uma segunda chance
Fome irmã do alimento
Alimento irmão da fome
Flecha de anos atrás
Flecha de anos atrás
Certa chega contra o alvo
Certa chega contra o alvo
Sei que já é meu pois sou
Sei que já é meu pois sou
Desde do nascimento à morte
Desde a morte ao nascimento
Silêncio no teu rastro
Segredo no teu rosto
Corre como a noite escura
Sei que sou a noite escura
Sua sorte é ter certeza
Contra uma certeza nada
Nada contra o amor selvagem
Terno como a cobra e o rato
Certo como a ponta e o pássaro
O que é seu não se esconde
Contra o que é seu, pois nada
Sou fato, sou grato
Ferido por Òsóòsi Ode Wawá
Oké Aro Arolé!
Certo como fé ofá
Certo como fé ofá
Do perdido encontrar
Reto para não errar
Gira para não ter fim
Orum Aiê
Do que é de sempre retornar.
Seja ausente, mas traga presente.
Sem título.
No balanço das ondas, o tempo. Ele vem e me cobre até a linha do pescoço. Reluta. Retorna e me cobre a cabeça. Para frente e para trás, feito mar. Movimento quântico. Estou indo e vindo no tempo, todo o tempo. Me recolhendo as mais profundas e escuras regiões de me mim mesmo. Me preparando então, para retornar com o peso de mil vidas. Segure-se, quando eu me debruçar sobre a terra, levarei tudo comigo.

Mil anos, mil vidas, mil sóis, do nascimento à morte. Conversas começam e terminam no mar. O mar é o inicio, o mar é o fim. A vida vivida, revivida, todos os dias, todas as horas, agora e ao mesmo tempo. Durmo e acordo heterônimos, homônimos, conhecidos, esquecidos, rescritos, transcritos e sem transformação alguma, talvez, mas eu nego. Mas esse fio solto no fluxo, essa incógnita incutida, me inquieta. Ser ou não ser? ou não ser, ou não ser, ou não ser, ou não ser um milhão de vezes. Me tornando e retornado a ser.

O mar é o tempo e o tempo é uma valsa. A cada dois passos dados para frente, dois são dados para trás. Dois passos pra frente, dois passos pra trás, dois passos pra frente, dois passos pra trás, dois passos pra frente, dois passos pra trás, dois passos pra frente, dois passos pra trás, dois passos pra frente, dois passos pra trás...
Eu puxo o fio!
Giramos, giramos, giramos...
Conhece-te a ti (m)esmo.
Alguns amores pertencem ao mundo, outros à morte.
Tem vez que as estrelas brilham menores
Parece que todas as luzes daqui até os confins vão se apagar
E que o mundo e toda a vida nele serão tragados pelo escuro
E então, será o fim.
É um trabalho árduo e de extrema paciência
Toda noite, ergo as mão ao céu
E uma a uma, estico a luz das estrelas
Tem dia que é só medo
Medo da solidão
Do vírus ebola
Da falta de desculpas
Das futuras ditaduras
Do tiro pela culatra das ideologias
Da descartabilidade do significante "amor"
Das vontades voláteis
Das fugas fatais
Da fragilidade dos tetos
Da finitude das primaveras
Da finitude dos dentes
Da finitude das pernas
Da finitude do pulso dos pais
Da fome das crianças
Do futuro previsível
Do futuro imprevisível
Do costume
Da ultima chance
Da primeira impressão
Da incapacidade de criar
Da castração do inexplicável
Da castração do inevitável
Do conformismo criacionista
Do conformismo ateu
Do abismo do "meu"
Do abismo de Deus
Da inviabilidade material do "livre"
Do fim dos livros
Do fim dos leitores
Do sexo sem sensualidade
Da esquizofrenia do desejo
Da não existência dos anjos
Do cataclisma moral da existência dos anjos
Medo do isolamento
Medo dos outros humanos
Medo das palavras
Medo do fim do corpo
Medo da coisa "mim"
Medo da coisa "eu"
Medo do escuro que veste a realidade
Medo dos panoramas retroflexos
Medo do prisma ineficiente da visão
Medo do faminto verbo-fluxo do tempo
Contido no movimento em repouso.